domingo, 24 de março de 2019

PINHEIRO

*(Mírian Monte)

E me mandaram sair do Pinheiro.
Mas para onde eu vou, sem dinheiro?
Um teto e quatro paredes,
Nas quais eu pendurava a minha rede
E cochilava após o almoço:
Assim era o meu lar, seu moço,
Que vai sucumbindo, rachando,
Caindo, descendo ao fundo do poço.
Voltarei à antiga rua Belo Horizonte?
Se alguém souber, então me conte!
Olha ali, moço, olha ali, defronte:
Veja a abóbada celeste bastante fechada
Veja quantas nuvens carregadas!
É água, moço, é água!
É água vindo sem trazer felicidade
O que será da minha cidade,
Depois da tempestade?
Haverá terremoto?
Haverá um colapso?
De quem foi o lapso?
E quem foi relapso?
E a lagoa Mundaú,
Mãe de todo sururu,
Que sempre foi tão explorada,
De repente não será mais nada?
Voltarei a ver meninas
Vestidas de bailarinas
Entrando e saindo do balé?
Será que, daquele caldinho,
No tradicional barzinho,
Provarei uma colher?
Veja só, seu moço,
Essa vida como ela é:
Quando a gente pensa que vai sossegar
Deixa tudo de pernas para o ar
Ela nos obriga a recomeçar.
Pois é, moço, o que será desse lugar?
O que será?

 (Mírian Monte)

Nenhum comentário:

Postar um comentário