E me mandaram sair do Pinheiro.
Mas para onde eu vou, sem dinheiro? 
Um teto e quatro paredes,
Nas quais eu pendurava a minha rede
E cochilava após o almoço:
Assim era o meu lar, seu moço, 
Que vai sucumbindo, rachando, 
Caindo, descendo ao fundo do poço. 
Voltarei à antiga rua Belo Horizonte?
Se alguém souber, então me conte! 
Olha ali, moço, olha ali, defronte: 
Veja a abóbada celeste bastante fechada 
Veja quantas nuvens carregadas! 
É água, moço, é água! 
É água vindo sem trazer felicidade
O que será da minha cidade, 
Depois da tempestade?
Haverá terremoto? 
Haverá um colapso?
De quem foi o lapso? 
E quem foi relapso? 
E a lagoa Mundaú, 
Mãe de todo sururu, 
Que sempre foi tão explorada, 
De repente não será mais nada? 
Voltarei a ver meninas 
Vestidas de bailarinas
Entrando e saindo do balé?
Será que, daquele caldinho, 
No tradicional barzinho, 
Provarei uma colher? 
Veja só, seu moço, 
Essa vida como ela é: 
Quando a gente pensa que vai sossegar
Deixa tudo de pernas para o ar 
Ela nos obriga a recomeçar.
Pois é, moço, o que será desse lugar? 
O que será?
 (Mírian Monte)
 
 
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