domingo, 28 de julho de 2019

Mulher taxista de 56 anos usa bom-humor para vencer a crise


Aline Melo trabalha com a irmã gêmea e compartilha o dia a dia de taxista pelo Instagram



Segundo Aline, profissão exige habilidade para cativar clientes "ser tagarela faz parte", diz.


Para além das canções e poesias, a paisagem exuberante do litoral alagoano inspira o dia a dia da taxista Aline Melo, que há 13 anos atua no segmento turístico. Aos 56 anos de idade e orgulhosa da profissão que desempenha, ela acredita fazer a diferença no dia a dia dos clientes e garante que, além de driblar o desemprego e a crise, é taxista por paixão.

"Eu nunca imaginei que eu ia trabalhar como taxista. Isso nunca passou pela minha cabeça", diz ela, relembrando a trajetória profissional.

"Já trabalhei em restaurantes, no serviço público, em cruzeiros, mas eu vi que o que eu gostava mesmo era de passear e conversar com as pessoas, porque eu sou tagarela, sabe?"

É com o bom humor que a motorista vende seus destinos, indica passeios, transporta milhares de turistas e leva a vida. Segundo Aline Melo, os diferenciais no serviço que oferece a ajudam a driblar o que chamou de "tempo de vacas magras", uma referência à crise financeira que o País atravessa.

"As pessoas estão sem emprego, estão apertadas. Então, nesse período, nós nos adaptamos também. Entendemos quanto o turista quer pagar e sugerimos um passeio, um programa legal. E eu só indico locais para os quais eu quero ir, porque a gente só dá aos outros o que gostaria de receber", diz.

"Eu gosto de conversar, sou apaixonada por pessoas. Eu sei que elas têm dias ruins, em que preferem ficar caladas, mas quando tenho oportunidade eu converso, faço rir. Eu vivo todos os dias da melhor maneira possível, pois ninguém sabe o dia de amanhã", completou.


No último Carnaval, um vídeo da taxista circulou pelo WhatsApp ( https://youtu.be/fsmOwT_N5wI ). Nele, o cliente dirigia o táxi em meio ao bloco Pinto da Madrugada, enquanto Aline caminhava entre os foliões e carros na tentativa de dispersar o trânsito e garantir a passagem.

"Eles estavam com medo de perder o voo. Saímos 11h da manhã, mesmo o voo deles sendo às 15h. Gastei uma hora para ir da Pajuçara ao Poço, o engarrafamento estava muito grande. Então eu não tive outra alternativa a não ser organizar aquele trânsito todo. Cliente meu não perde voo", afirmou.

ROTINA



Aline e Analine Melo trabalham juntas como taxistas e guias no litoral alagoano

Na sexta-feira, 26 de julho, a taxista saiu às 8 horas da manhã em direção a São Miguel dos Milagres (AL), que ela conta que é um dos destinos mais procurados ultimamente e atrai turistas de todos os tipos. Já passava das 19h quando Aline voltou para Maceió e, apesar de ser um trabalho que exige responsabilidade e atenção, ela relatou que não estava cansada.

"Eu não me canso não. É uma atividade trabalhosa, mas é tão gostosa que a gente nem sente. Temos muita sorte de ter em Alagoas tantos destinos maravilhosos para os quais você vai trabalhar, mas se encanta com as praias, com as paisagens, com o clima"

Ela divide o trabalho com a irmã gêmea, Analine Melo, que também atua como taxista e administra o negócio da família. Com 56 anos, Aline diz que não pretende parar tão cedo e que, mesmo quando se aposentar, vai continuar trabalhando.

"Temos 56 anos, mas eu me considero jovem. Quero me aposentar, mas não vou parar de trabalhar não. Até porque, com essa nova previdência vai ser difícil alguém se aposentar e não precisar trabalhar", diz.

MULHER TAXISTA

O número de mulheres atuando como Uber, por exemplo, é cada vez maior. Segundo dados da própria empresa, pelo menos 30% dos colaboradores são mulheres. A meta é equilibrar esse número até 2020. A reação dos clientes, segundo Aline, varia.

"No geral os passageiros gostam. Eles são maravilhosos. O que dizem é que se sentem mais seguros, se sentem amados. Tem todo um jeito de cuidar e eu cuido, me preocupo demais com a boa impressão do turista. O turismo só cresce quando a gente oferece nossa verdade, independente de qualquer coisa", finaliza.



 Por Maylson Honorato | Portal Gazetaweb.com    28/07/2019 11h33


Fonte:
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domingo, 21 de julho de 2019

Táxi em crise: autonomias que já valeram uma casa custam menos que carro.


Depois de 15 anos trabalhando em táxi, Antônio Carlos Sousa, de 51 anos, resolveu abandonar o amarelinho para ser motorista particular na Uber. E ele não foi o único. Com a chegada dos aplicativos de mobilidade urbana, o número de carros nas ruas se multiplicou e os ganhos dos taxistas caíram consideravelmente. Os chamados permissionários, que pagavam diárias para alugar táxis registrados, começaram a achar que era mais vantagem comprar o próprio veículo e não ter despesas fixas:

— Eu pagava R$ 600 para fazer parte de uma cooperativa, além de R$ 700 relativos ao aluguel da autonomia. Ficava muito caro! — conta o ex-taxista, que há um mês e meio trabalha em aplicativos.

Sousa, no entanto, comprou um carro zero, no valor de R$ 72 mil e se viu endividado porque os ganhos não foram tão altos quanto ele esperava:

— Meu carro novo já tem 9 mil quilômetros rodados, porque na Uber as corridas são muito baratas e é preciso rodar muito para ganhar alguma coisa. Se eu pudesse, comprava uma autonomia, mas não tenho dinheiro.

O valor das autonomias — que ganharam status de patrimônio em 2013, durante o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT) — também despencou nos últimos tempos. O registro já chegou a custar mais de R$ 200 mil e hoje é avaliado em torno de R$ 20 mil a R$ 50 mil, a depender da antiguidade. Embora esse comércio não seja lícito, é comum. Segundo o despachante Thiago Alves, de 31 anos, a desvalorização aconteceu não somente devido à chegada dos aplicativos no Brasil, mas também por causa das mudanças nas leis que regulam os táxis.

— Os veículos devem ter no máximo quatro anos de fabricação para ingressar no sistema e oito anos para permanecer — explica e acrescenta: — Vejo muitos taxistas com medo de perder o investimento inteiro e, por isso, querem querendo vender.

Gedore Cardoso, de 57 anos, é um deles. Após 30 anos como taxista, pretende vender a autonomia que lhe custou R$ 150 mil por R$ 40 mil, por não ter condições de trocar cumprir a exigência da Prefeitura e trocar o carro por um mais novo.

— Não tenho como trocar de carro. Chegou a hora de me aposentar! Meus filhos não querem rodar no táxi, então o jeito é vender — conta.

Como taxista, "não sobrava nada para mim"

"Eu fui taxista por mais de 20 anos, mas não tinha a minha própria autonomia. Eu pagava R$ 130 como diária para o proprietário e, às vezes, não sobrava nada para mim. Por isso, eu resolvi mudar pra carro particular há um mês e meio. Trabalhando 12 horas por dia ou mais, consigo tirar R$180 de lucro", afirma Dario Gonçalves, motorista de aplicativo e ex-taxista, de 63 anos.

“Vendi apartamento pra comprar autonomia”

"Após muito tempo pagando diária, eu vendi um apartamento para comprar a minha própria autonomia. Na época, 12 anos atrás, custou R$ 250 mil. Percebi que o preço estava caindo e consegui vender por R$ 90 mil. Decidi mudar para não morrer de fome! Hoje, o táxi que não faz parte de cooperativa não consegue fazer dinheiro mais.", diz Álvaro Bezerra motorista de aplicativo e ex-taxista, de 41 anos.

Profissão em desvalor

Atualmente, de acordo com a Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro, há 31.481 taxistas e permissionários ativos, e 20.030 auxiliares cadastrados no órgão. Nesta gestão, foram entregues 1.450 autonomias, cuja comercialização é proibida. Para o diretor de comunicação do Sindicato dos Taxistas Autônomos do Rio de Janeiro, Vagner Monteiro, a maior desvalorização não é do documento, mas sim “da profissão, do profissional, do mercado, da sociedade, da população que após ficar desempregada recorreu ao serviço de transporte individual para tentar sustentar suas famílias”.

A Uber preferiu não se pronunciar sobre a relação do app com a crise no mercado de táxis e não informou quantos motoristas são cadastrados na cidade do Rio de Janeiro.

Via Jornal Extra