Depois de 15 anos trabalhando em
táxi, Antônio Carlos Sousa, de 51 anos, resolveu abandonar o amarelinho para
ser motorista particular na Uber. E ele não foi o único. Com a chegada dos
aplicativos de mobilidade urbana, o número de carros nas ruas se multiplicou e
os ganhos dos taxistas caíram consideravelmente. Os chamados permissionários,
que pagavam diárias para alugar táxis registrados, começaram a achar que era
mais vantagem comprar o próprio veículo e não ter despesas fixas:
— Eu pagava R$ 600 para fazer parte
de uma cooperativa, além de R$ 700 relativos ao aluguel da autonomia. Ficava
muito caro! — conta o ex-taxista, que há um mês e meio trabalha em aplicativos.
Sousa, no entanto, comprou um carro
zero, no valor de R$ 72 mil e se viu endividado porque os ganhos não foram tão
altos quanto ele esperava:
— Meu carro novo já tem 9 mil
quilômetros rodados, porque na Uber as corridas são muito baratas e é preciso
rodar muito para ganhar alguma coisa. Se eu pudesse, comprava uma autonomia,
mas não tenho dinheiro.
O valor das autonomias — que
ganharam status de patrimônio em 2013, durante o governo da presidenta Dilma
Rousseff (PT) — também despencou nos últimos tempos. O registro já chegou a
custar mais de R$ 200 mil e hoje é avaliado em torno de R$ 20 mil a R$ 50 mil,
a depender da antiguidade. Embora esse comércio não seja lícito, é comum.
Segundo o despachante Thiago Alves, de 31 anos, a desvalorização aconteceu não
somente devido à chegada dos aplicativos no Brasil, mas também por causa das
mudanças nas leis que regulam os táxis.
— Os veículos devem ter no máximo
quatro anos de fabricação para ingressar no sistema e oito anos para permanecer
— explica e acrescenta: — Vejo muitos taxistas com medo de perder o
investimento inteiro e, por isso, querem querendo vender.
Gedore Cardoso, de 57 anos, é um
deles. Após 30 anos como taxista, pretende vender a autonomia que lhe custou R$
150 mil por R$ 40 mil, por não ter condições de trocar cumprir a exigência da
Prefeitura e trocar o carro por um mais novo.
— Não tenho como trocar de carro.
Chegou a hora de me aposentar! Meus filhos não querem rodar no táxi, então o
jeito é vender — conta.
Como taxista, "não sobrava
nada para mim"
"Eu fui taxista por mais de 20
anos, mas não tinha a minha própria autonomia. Eu pagava R$ 130 como diária
para o proprietário e, às vezes, não sobrava nada para mim. Por isso, eu
resolvi mudar pra carro particular há um mês e meio. Trabalhando 12 horas por
dia ou mais, consigo tirar R$180 de lucro", afirma Dario Gonçalves, motorista
de aplicativo e ex-taxista, de 63 anos.
“Vendi apartamento pra comprar
autonomia”
"Após muito tempo pagando
diária, eu vendi um apartamento para comprar a minha própria autonomia. Na
época, 12 anos atrás, custou R$ 250 mil. Percebi que o preço estava caindo e
consegui vender por R$ 90 mil. Decidi mudar para não morrer de fome! Hoje, o
táxi que não faz parte de cooperativa não consegue fazer dinheiro mais.",
diz Álvaro Bezerra motorista de aplicativo e ex-taxista, de 41 anos.
Profissão em desvalor
Atualmente, de acordo com a
Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro, há 31.481 taxistas e
permissionários ativos, e 20.030 auxiliares cadastrados no órgão. Nesta gestão,
foram entregues 1.450 autonomias, cuja comercialização é proibida. Para o
diretor de comunicação do Sindicato dos Taxistas Autônomos do Rio de Janeiro,
Vagner Monteiro, a maior desvalorização não é do documento, mas sim “da
profissão, do profissional, do mercado, da sociedade, da população que após
ficar desempregada recorreu ao serviço de transporte individual para tentar
sustentar suas famílias”.
A Uber preferiu não se pronunciar
sobre a relação do app com a crise no mercado de táxis e não informou quantos
motoristas são cadastrados na cidade do Rio de Janeiro.
Via Jornal Extra
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