A Uber tem tido um crescimento
exponencial desde que foi criada, mas a expansão tem sido acompanhada por um
mar crescente de polemicas. Será que ainda há mãos para guiar o volante da Uber
de regresso ao bom caminho.
Travis Kalanick, um dos fundadores
e principais acionistas da Uber, demitiu-se do cargo de CEO da plataforma
tecnológica de mobilidade. A ex-start up criada há menos de dez anos nunca saiu
da ribalta, muitas vezes pelas piores razões, mas agora está órfã. E enfrenta
querelas na justiça de vários países, a que se juntam prejuízos consecutivos. A
ameaça externa dos taxistas dissipou-se e transferiu-se para o interior desta
empresa, até há pouco tempo considerada exemplar no novo capitalismo do século
XXI e avaliada em mais de 53 mil milhões de euros. Será que ainda há mãos para
guiar o volante da Uber de regresso ao bom caminho?
Com a Uber, é sempre assim. Tudo se
passa com grande estrondo, de preferência com fortes pitadas de polemica. Repetiram-se,
mais uma vez, na semana passada, quando a empresa surpreendeu novamente o
Mundo, desta feita não pelas melhores razões.
O fundador – e, supostamente, um
dos maiores acionistas – da plataforma tecnológica de mobilidade, Travis
Kalanick, anunciou a sua demissão de CEO da empresa. E até ao momento, não foi
ainda encontrado qualquer sucessor para esta ex-start up fundada há menos de
dez anos.
Se a Uber já faz correr muita tinta
num pachorrento e monótono dia, com esta decisão, para muitos inesperada e
ainda mal explicada de Travis Kalanick, o turbilhão mediático ganhou dimensões
estratosféricas. E existem duas correntes explicativas dominantes para esta
demissão. Os mais crentes no guru defendem-no, invocando razões pessoais, uma
vez que a mãe de Talanick faleceu há cerca de três semanas, vítima de um
acidente de viação.
Por seu turno, os mais críticos
justificam que esta era uma saída inevitável face aos ininterruptos escândalos
em que a empresa tem estado envolvida um pouco por todo o Mundo. A que acrescem
os largos milhões de prejuízos que tem acumulado ano após ano e que terão
indisposto os respectivos acionistas. Sejam eles quais forem, mesmo que os
rumores apontem a Google e a Goldman Sachs, além dos fundadores da empresa,
Travis Kalanick e Garrett Camp, como alguns dos maiores donos da Uber.
Em nota enviada ao The New York
Times, Kalanick explica-se: “eu amo a Uber mais do que nada neste Mundo e neste
momento difícil da minha vida pessoal aceitei o pedido dos investidores para me
afastar para que a Uber volte a crescer e não se desvie em mais uma disputa”.
Recorrendo a uma análise de
conteúdo nossa, até pode ser que as razões pessoais tenham estado na base desta
demissão, mas a declaração do fundador da Uber admite em simultâneo que a saída
foi exigida pelos acionistas, que a empresa está em queda e que tem sido
esgotante o caminho das refregas judiciais e das controvérsias públicas em que
a Uber mergulhou em quase todos os mercados em que opera.
E há uma coisa que se consolida
agora como certa: com esta crise aberta no seio de uma das mais badaladas
rising stars do novo capitalismo mundial, da vanguarda da tecnologia e da
inovação em serviços de mobilidade, os taxistas já não podem ser encarados como
o grande inimigo da Uber. As grandes dificuldades parecem mesmo brotar a partir
de casa e não se vislumbra qual o antídoto para este abalo sísmico e quem terá
a sageza e a coragem para o administrar.
E o incomodo é incontornável. Ainda
esta semana, Rui Bento, diretor-geral da Uber em Portugal, não disfarçou a
dificuldade que a saída de Travis Kalanick coloca ao futuro da empresa e dos
seus colaboradores. “A demissão do Travis não foi encarada de ânimo leve. Esta
decisão é uma saída.
Não olhamos para ela de ânimo
leve”, admitiu este responsável num encontro com jornalistas que teve lugar na
sede da empresa em Lisboa, na passada terça-feira.
“A visão da Uber é muito do Travis.
Foi uma decisão tomada num momento muito difícil para a sua vida pessoal, em
que ele pôs, mais uma vez, a Uber à frente”, sublinhou Rui Bento.
O diretor-geral da Uber Portugal
pretende agora que seja escolhido um novo líder para esta plataforma digital de
mobilidade, “que nos consiga colocar no caminho da liderança”, acrescentando
que “esperamos que esse novo líder crie condições para continuarmos a crescer”.
Mas questionado sobre o nome que preferia para assumir a liderança da empresa,
Rui Bento esquivou-se: “prefiro não especular sobre quem prefiro à frente da
Uber”.
A Uber tem tido um crescimento
exponencial desde que foi criada, mas a expansão tem sido acompanhada por um
mar crescente de polemicas, desde conflitos com taxistas em vários países do
Mundo, incluindo Portugal, acusações de más práticas de gestão, assédio sexual
e política machista de recursos humanos, entre outras denúncias. Além de
acumular milhões e milhões de prejuízos em anos a fio.
Ainda há poucos meses a empresa foi
avaliada em 60 mil milhões de dólares (cerca de 53,6 mil milhões de euros ao
câmbio atual). Não se sabe qual será o valor real da empresa no momento atual,
agora que está sem liderança executiva, mas há uma questão que começa a afligir
os investidores e os utentes deste serviço inovador:
será que ainda há mãos para guiar o
volante da Uber de volta ao bom caminho?
Uma incógnita que só o tempo poderá
responder.
9 de julho de 2017
Carlos Laia
A Voz do Taxista
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