Hoje, foi anunciado o reajuste no valor da bandeirada dos
táxis cariocas, que na próxima quarta-feira passará de R$ 5,40 para R$ 5,50, um
acréscimo de 10 centavos. Muitos taxistas foram contra o aumento, alegam que
perderão ainda mais usuários para o concorrente americano Uber, não levam em
conta o aumento de todos os insumos que envolvem a própria produção, que vão
desde a manutenção do automóvel até os inúmeros aumentos do combustível. Há de
se ressaltar que o último reajuste dos táxis no Rio ocorreu em 2016. Em 2017,
evitar a correção da tarifa foi a escolha sensata num momento em que a nossa
mídia colonizada ainda oferecia forte apoio à suposta inovação dos aplicativos
de transporte individual. Talvez, por falta de reflexão ou desespero, esses
taxistas que fomentam a depreciação do ofício ainda não tenham atinado que
aplicativos como o Uber se transformaram em bico ou complemento de renda para
aventureiros do trânsito; quando não é assim, serve de boia salva-vidas para
desempregados que não se importam em abrir mão de direitos e de mínimas
proteções trabalhistas. Já o táxi, para a maior parte dos permissionários, não
é um bico, é profissão.
Uma das poucas informações que o Uber disponibiliza diz que
o aplicativo assume somente a conexão, não se responsabilizando por nada mais.
Ou seja, ao Uber cabe o bônus da operação; passageiros e motoristas que arquem
com qualquer possível ônus. Não à toa que foi proibido em diversas cidades e
países da Europa (como os exemplos recentes de Londres e Dinamarca) e vem sendo
reavaliado também em Nova York.
Os taxistas justificam que rejeitar o reajuste sobre o atual
valor trabalhado seria uma estratégia de sobrevivência. Não é possível
estratégia contra uma multinacional que se baseia no pressuposto de regras
mínimas ou na total ausência delas, como ocorre no Rio de Janeiro. A
sobrevivência dos taxistas não está atrelada à efetivação ou não de um
reajuste, mas à coragem do Estado em enquadrar uma empresa de tecnologia que se
coloca acima da ordem urbana e social. A luta do taxista não deveria conter a
ideia de depredar sua qualidade de vida pela suposição de que mais vale
sobreviver do que garantir a dignidade. Uma batalha travada pela ótica dos
suicidas é uma guerra perdida.
Fato ainda pior na capital do Rio de Janeiro é testemunhar
uma luta interna promovida por alguns grupos de taxistas contra companheiros de
classe que insistem em preservar a dignidade do trabalho que escolheram para
ganhar a vida. É insano. Como é possível criticar alguém que tenta mostrar que
é preciso manter o amor-próprio antes de enfrentar um adversário?
O Uber é uma bolha que cresce sem controle, como bem
demonstrou um estudo realizado pela COPPE/UFRJ, seu destino é explodir em algum
ponto da curva. Em sites como o Reclame Aqui já acumula mais de 50 mil
denúncias; desvia a discussão sobre o transporte de massa; explora a mão de
obra terceirizando camelôs de asfalto sem licença; não aceita nenhuma relação
trabalhista com seus prestadores de serviço, mas recolhe deles 25% dos ganhos
da produção. Não há como manter uma mentira por muito tempo.
O que parece incomodar aos taxistas, mais do que o reajuste
aprovado, é a burocracia e os custos que derivam disso. São obrigados a pagar
200 reais pela troca do chip do taxímetro, mais as despesas do serviço e a taxa
do IPEM (Instituto de pesos e medidas). Ficam reféns de um cartel de
relojoeiros (empresas autorizadas que manipulam os taxímetros) e de uma romaria
que os faz perder um dia de batente em troca do certificado de fiscalização.
Isso, sim, deve ser questionado.
O embate dos taxistas contra a desapropriação da dignidade
do trabalho se tornou um símbolo de resistência que ganhou repercussão nacional
num país que está sendo vendido e recolonizado. Só os covardes se encolhem, a
vitória exige ousadia.
(por Alexandre Coslei)
https://www.facebook.com/coslei/posts/1776913015716455
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